Os veículos de comunicação comunitária representam uma evolução em relação à mídia comercial que é análoga ao que os recentes mecanismos de democracia participativa ou direta significam diante dos mecanismos clássicos de representação. A avaliação é da vice-presidente para América Latina e Caribe da Associação Mundial da Rádios Comunitárias, Maria Pia Matta. "Os meios comunitários independentes, pluralistas, podem fazer a diferença notória entre esse estado da democracia somente representativa, que está em crise, e a democracia participativa, direta, das pessoas", defende Pia, que atualmente mora no Chile.
Pia diz que a situação no Brasil é especialmente crítica e não vê perspectiva de reversão do quadro: "O Brasil tem uma sociedade comunicacional muito mercantilizada e a tendência é mercantilizar mais, porque os empresários têm sempre que estar pensando como eles poupam recursos para produzir mais. É uma questão sem limite", condena, ao destacar que "a sociedade civil não dispõe de meios para competir em condições de igualdade com as emissoras comerciais, não tem como juntar três, cinco milhões de dólares para comprar uma rádio comercial FM em São Paulo".
Segundo Pia, as televisões e rádios comunitárias surgem no cenário internacional como alternativa ao modelo comercial de comunicação. "Temos que fazer alguma coisa para que esse conhecimento não esteja apenas em mãos privadas e para que as possibilidades de liberdade de expressão e de opinião, a liberdade dos mais pobres, das mulheres, dos diferentes, sejam cada vez menos minoritárias".
A ativista lamenta que o crescimento do número de rádios comunitárias não seja acompanhado por uma mudança da concepção que os governos têm em relação a essas emissoras. "Hoje, na América Latina, o conceito de comunitário é a coisa pequena, malfeita, pouco escutada, com pouquíssima potência. Então, os governos visam-nas mal, porque acham que a atividade da rádio comunitária é uma coisa que deve ser colocada num lugar diferente do local que tem a radiodifusão comunitária, por exemplo. Os empresários latino-americanos da radiodifusão comercial sempre estão achando que as rádios comunitárias vão tirar o que pertence a eles. Só que isso que eles acham que pertence a eles pertence à humanidade, a homens, a mulheres, a crianças que têm o direito a escutar coisas diferentes no rádio".
Informação: Sulrádio/ Agência Brasil